História

Como surgiu a 1ª Aliança Bíblica de Porto Alegre ..


No início de 1967 havia em Porto Alegre dois casais de obreiros da West Indies Mission (ora com o nome de World Team). Eram eles: Lowell Bailey e esposa Katharine (Catarina), residentes em Porto Alegre desde março de 1960, quando haviam se transferido de Dourados, Mato Grosso do Sul, para esta capital; e Everett Lamberson, técnico de rádio, e esposa Norma, transferidos do Haiti, sob contrato, para melhorar a comunicação radiofônica da Missão e das igrejas que iam nascendo sob o nome de Aliança Bíblica.

Nesse ano de 1967, Lowell dirigia em Porto Alegre uma Escola Bíblica por Correspondência (EB/C), que na época empregava de tempo parcial, como auxiliar de escritório, a Gelci Alves, que na época cursava o Colégio Batista. A EB/C atendia a 2.800 alunos, espalhados pela maioria dos municípios do Rio Grande do Sul, e ainda por vários outros Estados. Entre as fontes de alunos também figurava a Rádio KGEI, de São Francisco da Califórnia, EUA, que irradiava programas evangélicos por onda curta e mandava à EB/C os endereços de todos os ouvintes do Brasil que para lá escrevessem.

Os casais Bailey e Lamberson constituíam o Departamento de Rádio da Missão. Lowell escrevia os textos, escolhia as músicas e servia de locutor na produção de cinco programas por semana. Estes, sob os títulos “Cristo, Nossa Vida”, “Cristo, a Vida dos Jovens”, “Cristo, a Vida das Crianças” e “Pastor, Tenho uma Pergunta”, eram irradiados pelas emissoras Itaí, Metrópole, Princesa e União. No programa dos jovens, também eram ouvidas as vozes de Gelci Alves e Flora Bailey. O Everett gravava, copiava e distribuía os programas acima mencionados; e ainda um outro, preparado pela missionária Virgínia Barrows, denominado “Uma Visita com Virgínia”. Os programas continham vozes e arranjos exclusivos (por exemplo: um trio formado por Samuel & Edna Harms e Alden Barrows; e um grupo de Londrina, PR). A preparação dos programas era de alta qualidade técnica, e em virtude do seu conteúdo bíblico e do fato de oferecerem gratuitamente os cursos da Escola Bíblica por correspondência, eles traziam benefícios a milhares de ouvintes. Também a maneira de Lowell conversar diretamente com o ouvinte individual, em vez de gritar como em praça pública, servia de exemplo a vários outros líderes evangélicos, os quais foram adotando um estilo mais informal em seus programas.

Lowell e Everett também lecionavam no pequeno Instituto Batista Bíblico da capital, e Lowell fazia parte da diretoria da União de Obreiros Evangélicos de Porto Alegre. Além disso, eles ajudavam, de várias maneiras, nas obras das Alianças Bíblicas em São Leopoldo, Novo Hamburgo, Sapiranga e Montenegro. Lowell já foi pastor interino de algumas dessas igrejas Aliança Bíblica. Entretanto, a maior parte do seu esforço, entre os anos 1963 e 1968, se dedicou à EB/C e ao ministério radiofônico.

No final de 1966 o Depto. de Rádio ofereceu gratuitamente, a todos os ouvintes que o pedissem, um calendário para 1967 trazendo fotos daqueles que eram ouvidos nos programas da Aliança Bíblica. Para os endereços dentro da capital, a entrega foi feita pessoalmente. Um dos pedidos veio de um lar no bairro Floresta. Não encontrando ninguém nessa residência, a dos Capelletti, Lowell pos o envelope debaixo da porta e se retirou.

No primeiro trimestre desse ano de 1967, o novo diretor internacional da Missão, Allen Thompson, visitou os obreiros no Brasil e os exortou a se dedicarem principalmente à obra de evangelizar e implantar novas igrejas. Lowell, sabendo que os dons dos casais Bailey e Lamberson eram outros, julgou pouco provável que surgisse uma Aliança Bíblica em Porto Alegre, a não ser que outros obreiros, adequadamente dotados, fossem destacados para trabalhar ali. Ele ainda assim pensava, quando de repente surgiram à sua porta duas pessoas: a Sra. Eunice Capelletti e sua filha Maribel, as daquela casa onde ele deixara, sem contato pessoal, o calendário do Depto. de Rádio. Elas explicaram que, pertencendo a um lar católico, haviam se convertido à fé pessoal em Cristo por meio de uma campanha evangelística realizada por Enéas Tognini em visita a Porto Alegre. Elas haviam passado a freqüentar a igreja evangélica onde se realizara a campanha. Entretanto, estavam decepcionadas, pois quando haviam conseguido que o marido da dona Eunice fosse conversar com o pastor, ele não o evangelizara mas lhe dissera que estava bem, por já possuir uma religião. Contando isso ao Lowell, a dona Eunice declarou:
– Cremos que o senhor é quem deve ser o nosso pastor, porque tudo o que ensina nos programas de rádio combina exatamente com o evangelho que nos foi pregado pelo pr. Enéas e que nos trouxe a salvação.
Lowell lhes explicou que, embora houvesse Alianças Bíblicas em outras cidades, na capital não existia nenhuma. Por isso, ele exortou Eunice e Maribel a assistirem à então chamada Igreja Batista de São João (agora do Passo d’Areia), acessível a elas por uma só condução e liderada pelo pastor Orlando de Oliveira.
Dentro de algumas semanas, ali estavam as Capelletti de volta:
– Ótima, a igreja. Ótimo, o pr. Orlando. Mas ainda temos a certeza de que o senhor é quem deve ser o nosso pastor!
Lowell de repente entendeu que, assim como Pedro teve uma visão que o preparou para um ministério que sempre evitara, também ele estava ouvindo a voz do Senhor, por meio dessas irmãs. E sem esperar para ver se elas voltariam pela terceira vez, ele – embora com uma boa dose de temor e tremor – combinou com elas o seguinte:
– Vamos reunir-nos uma vez por semana para orar. Vamos pedir a Deus que, se for mesmo da vontade dele que surja agora uma Aliança Bíblica em Porto Alegre, ele então nos dê plena convicção disso e nos capacite para dar início à obra.


Uma conhecida de Norma Lamberson, Irma Prüfer, moradora do bairro Bela Vista, ofereceu a sua casa como local de reuniões. Assim foi que na noite de 11 de junho de 1967, 10 pessoas se ajoelharam no frio chão daquela casa à Rua Barão de Ubá, 289, perguntando:

– Senhor, será que tu queres estabelecer em Porto Alegre uma igreja da Aliança Bíblica, onde ensinemos e pratiquemos os mesmos princípios que anunciamos pelo rádio?

Já na terceira semana, além das orações, os assistentes começaram a compartilhar testemunhos pessoais: o de Gelci Alves, que se convertera em Bagé por meio da leitura de um folheto; o de Joana Ollmann, que se convertera em Erechim por meio dos nossos programas de rádio e os estudos da EB/C: e de Norma Lamberson. E na quinta reunião semanal, foi acrescentado ainda outro elemento: o estudo bíblico.

Não era oficialmente igreja, esse grupo que se reunia em noites de domingo no Caracol da Bela Vista. As mesmas pessoas assistiam a outras igrejas pela manhã. Alguns participaram várias vezes das orações e depois se afastaram; mas a comunhão dos dois primeiros meses criou em outros a vontade de se comprometeram. A 10 de agosto, por exemplo, as irmãs Irma Prüfer e Cacilda Kirsch são “examinadas para se tornarem membros”. O jovem Joaquim assiste com assiduidade. O número aumenta para 25.

No primeiro domingo de outubro, Everett Lamberson começa a lecionar sobre o livro de Gálatas, uma série que ocupará 10 semanas. Ken & Jean Richard, obreiros da Missão recém-chegados ao Brasil, passam a assistir em companhia dos filhos, Loreen e Blaine. A casa onde o grupo se reúne dista poucas quadras da Igreja Batista Bíblica. Chega-se, portanto, a uma convicção:
– Deus quer que encontremos um bairro pouco evangelizado onde dedicar os nossos esforços.

Everett Lamberson é incumbido de pesquisar. Traz informações sobre vários bairros, entre os quais a Vila Ipiranga. O Lowell percorre de Kombi e a pé as ruas da Vila Ipiranga, e sente tremenda compaixão por seus moradores. Quando um grupo menor começa a se reunir também em noites de quarta-feira, às vezes ele os mete todos dentro da Kombi e os leva à Vila Ipiranga. Estacionam em ponto alto a meia quadra da Estrada do Forte, onde possam ver grande parte do bairro, e oram insistentemente pela conversão de muitas pessoas da Vila Ipiranga, bairro onde nenhum deles reside, mas que já está no coração de cada um. Enquanto isso, o bairro nada sabe – e se soubesse, nada entenderia – desse amor.

Começa o ano 1968. Nair Lopes, da Aliança Bíblica de Sapiranga, agora trabalha junto com Gelci Alves na Escola Bíblica por Correspondência. A Nair passa os fins de semana em Sapiranga, mas nas noites de quarta-feira, ajuda o grupo de Porto Alegre a orar. Depois, quando o Lowell propõe uma distribuição de literatura a todos os lares da Vila Ipiranga, a Nair concorda em participar. O recém-convertido diretor da Rádio União, o carioca Edi Araújo, e a namorada, a cantora Sara Castilhos, vão trabalhar na distribuição. Irma Prüfer e Flora Bailey, idem. Eunice e Maribel Capelletti, então, nem se fala: se tudo começou por causa da visão delas... O Joaquim, sempre disposto, e o seu amigo João Saraçol, também se comprometem a fazer distribuição de literatura. E outros, que a memória não guarda...

Assim é que a 31 de janeiro de 1968, pela primeira vez, se procura contato direto com moradores da Vila Ipiranga. Equipes de duas pessoas oferecem em cada porta ou portão dessa vila (e em muitas moradias da vizinha Vila Jardim, também), o seguinte jogo: um folheto evangelístico, um exemplar do Evangelho de João, e a primeira de uma série de quatro lições baseadas nesse Evangelho, junto com uma carta convidando alguém desse lar a se inscrever, grátis, na EB/C. Visitando as Alianças durante as férias escolares, uma equipe de jovens do Instituto e Seminário Bíblico de Londrina junta suas forças às nossas e também sai para fazer distribuição.

Essa campanha termina a 14 de fevereiro. Quase todo lar recebeu um Evangelho de João e a oportunidade de estudar esse livro por meio da Escola Bíblica por Correspondência. Qual o resultado? Visível, nenhum. Na Vila Ipiranga nada muda, nenhuma porta se abre.

Mas o nosso Deus está preparando outro meio. Quando os diretores da Liga do Testamento de Bolso (LTB) querem vir de São Paulo para fazer um giro evangelístico pelo interior do Rio Grande do Sul, quem os ajuda a formar contatos com pastores gaúchos é o Lowell. Ele oferece à LTB a EB/C como instrumento para ensinar verdades básicas da Bíblia e da vida cristã aos que se converterem por meio das suas evangelizações ao ar livre neste estado. E a Missão empresta Everett Lamberson, exímio técnico eletrônico, à LTB para viajar com eles pelo interior gaúcho.

E o “muito obrigado” deles, qual será? Durante todo o mês de março, quando os obreiros da LTB estiverem descansando com as famílias em São Paulo, as Alianças terão pleno uso da maravilhosa camioneta LTB, que toca músicas, convida gente para os encontros ao ar livre, projeta filmes, e serve de palco iluminado ao pregador do evangelho enquanto Evangelhos de João, fornecidos pela LTB, cada um contendo um formulário para se pedir um estudo bíblico por correspondência, são distribuídos entre adultos e jovens da assistência.

Essa camioneta poderia ser usada na Vila Ipiranga! Ela chamaria a atenção do povo! Mas antes disto, outros obreiros deverão ser servidos: Alden Barrows, em Montenegro (duas vezes), Howard Barrigar e Geraldo Hildebrand, em São Leopoldo (quatro vezes). Subindo em cima da camioneta em todos esses lugares, Lowell vai aprendendo como é que se faz esse tipo de evangelização.

Existem apenas duas datas reservadas para a Vila Ipiranga. Terá de ser ou 20 ou 27 de março de 1968. O dia 20 é de chuvas torrenciais. Isso deixa o 27 como a única possibilidade, porque é o último dia antes da volta do pessoal da LTB e a devolução da camioneta.

No dia 27, também chove. Mas o nosso grupo se reúne e ora. À tarde, em resposta à oração, a chuva pára. Então Everett Lamberson dirige a camioneta e o Lowell vai anunciando pelo alto-falante, em toda a Vila Ipiranga, que essa noite, na Praça dos Indígenas (agora Parque dos Nativos), serão passados ao ar livre dois filmes, um de cunho científico e outro para crianças, de assistência totalmente grátis. Que venham todos, trazendo as famílias!

E assim é que, na noite de quarta-feira, 27 de março de 1968, com a grama ainda molhada, uma multidão se reúne em torno da camioneta da LTB. Primeiro se passa um filme cheio de chimpanzés, para deleite das crianças, Depois, um filme do Instituto de Ciências Moody. Quando chega o momento de o Lowell proclamar o evangelho e oferecer os Evangelhos de João ao povo, lá de cima da camioneta ele nota que um menino está armado de bodoque e está se preparando para acertar uma pedra nele. Mas, pela graça de Deus, um guarda à paisana se encontra ao lado do pequeno agressor, e apreende o bodoque, evitando que o pregador seja atingido.

Distribuindo Evangelhos de João e ajudando pessoas interessadas a preencher o formulário que cada um traz dentro, lá estão a Flora, a Nair, a Norma, o Lowell (mas não o Joaquim, que se engana do endereço e chega somente quando a festa já está no fim). Incrível: eles colhem 103 nomes e endereços daquelas amadas pessoas da Vila Ipiranga! O formulário entregue, representa o desejo de se iniciar o estudo de uma série de quatro lições baseadas no Evangelho de João.

Imediatamente, às vezes sozinho, outras vezes levando o Joaquim com ele, Lowell começa a procurar os endereços. Alguns são “frios”. Algumas pessoas, quando encontradas, informam que já mudaram de idéia quanto a estudar o Evangelho de João. Mas também se encontram portas abertas. O Lowell começa a levar voluntários (de modo especial Eunice e Maribel Capelletti, Gelci Alves, Flora Bailey e Sara Castilhos), sábados pela tarde, para visitar e iniciar estudos bíblicos nos lares mais acessíveis.


A família Polo, a família da dona Vandilha da Costa... essas se destacam. Mais tarde, pessoas convertidas nesses lares farão parte permanente do núcleo da Aliança Bíblica de Porto Alegre. Os calorosos convites da dona Vandilha alcançarão, mais tarde, a família Filsinger...


A 14 de abril de 1968, no batistério da Igreja Batista de Cristo (a igreja russa assistida pela família Richard, igreja essa da qual o Lowell mais tarde será pastor interino por um ano e onde, por algum tempo, a família Jeff Smith haverá de cooperar), realiza-se o primeiro batismo deste grupo, que já pensa em adotar o nome de “Primeira Igreja Aliança Bíblica de Porto Alegre”. Batiza-se Maribel Capelletti, batiza-se Edi Araújo, diretor da Rádio União...

Em agosto de 1968, a família Bailey parte para os Estados Unidos. Por um ano Lowell novamente lecionará no seminário onde ele e a Catarina se formaram. Ela lecionará numa escola particular evangélica. Durante esse tempo os fiéis obreiros Geraldo e Margaret Hildebrand, além de pastorear uma Aliança Bíblica em São Leopoldo, viajam constantemente a Porto Alegre para cuidar desta nova Aliança.

No final de 1969 Lowell e Catarina voltam ao Brasil, tendo recebido da Missão a nova incumbência de se dedicar ao desenvolvimento do Ensino Teológico por Extensão na Grande Porto Alegre e no país. Em vez de eles reassumirem a liderança desta igreja, é decidido que Alden e Virgínia Barrows devem transferir-se de Montenegro para Porto Alegre e assumir a liderança pastoral. Os bons resultados dessa decisão são por todos reconhecidos.

Através de todas as fases pelas quais a igreja tem passado desde então, ela tem mantido a sua dedicação ao evangelho da graça de Deus. Pessoas evangelizadas, discipuladas e treinadas nesta igreja têm representado bem o Senhor Jesus em diversas partes do Brasil e até no além-mar. E o futuro, como alguém já disse, “é tão brilhante quanto as promessas de Deus”!
E tudo começou... por aquelas duas visitações angelicais (não de Gabriel e Miguel, mas de Eunice e Maribel), comunicando a sua insistente mensagem:
– Cremos que o senhor é quem deve ser o nosso pastor.

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